Nenhuma empresa possui qualquer exclusividade ou isenção no contínuo desafio de engajar as pessoas em torno de seus objetivos, sejam eles estratégicos, operacionais ou culturais. Ainda que os robôs e o advento da inteligência artificial preconizem mudanças radicais na força de trabalho, o sucesso dessas tendências somente será concretizado por meio do empenho e do pleno engajamento das pessoas inseridas direta ou indiretamente nesta missão. É de fato um paradoxo bem interessante.
Recorrendo às minhas experiências práticas, acredito que o primeiro passo para se criar uma cultura forte de engajamento é encantar as pessoas desde o primeiro momento da sua chegada na organização. Estamos bastante acostumados a falar sobre a geração de experiências impactantes para os nossos clientes, mas esquecemos de cuidar das pessoas do time que cuidam diretamente dos clientes, então, é primordial garantir que o primeiro dia de empresa dos recém-chegados seja uma experiência incrível e única. Como diz o ditado que “a primeira impressão é a que fica”, fazer o onboarding diferenciado sem dúvidas fortalecerá o processo como um todo, além de gerar inicialmente o sentimento de pertencimento e aquela sensação boa que todo mundo gosta de se sentir valorizado. Até pegar o jeito, o processo de onboarding pode até começar um pouco mais mecânico, mas os gestores devem estar bem atentos para que não se torne um momento meramente pro
forma ou fake.
Consistência sempre tende a ser mais importante do que a intensidade, portanto, após a chegada e a missão dada, é trivial proporcionar um ambiente de trabalho onde as pessoas possam dar o melhor de si. Não me refiro somente às questões físicas e tecnológicas que, embora sejam importantes, precisam também estar acompanhadas de outros fatores e aqui destaco apenas uma, mas que considero de máxima importância, que é a autonomia. Para que fique claro, autonomia não é um cheque em branco que concede liberdade plena e não define as regras do jogo, ao contrário, a autonomia permite que o indivíduo se sinta responsável por encontrar e definir as melhores soluções que vão ao encontro das metas e missões estabelecidas a ele. Os indicadores sempre ajudarão a apontar a necessidade de correções de rotas e, em sendo necessário, o feedback entra em cena como mais uma ferramenta útil para ajudar a colocar a equipe de volta na direção correta. Feedbacks funcionam bem em 360º, mas aquele vindo da liderança possui extrema relevância.
Para contextualizar melhor a relevância do papel da liderança, trago aqui dois exemplos do livro “Aperte o F5″ que me chamam muito a atenção e relatam um pouco a história de Satya Nadella, o terceiro CEO da Microsoft.
Satya, que é um apaixonado por críquete, conta que em um dos seus jogos na época de escola, o capitão da equipe decidiu substituir um dos seus melhores jogadores, colocando-o para jogar em outra posição. Esse jogador em determinado momento do jogo poderia ter feito a diferença com facilidade, mas simplesmente se absteve, por pura birra. E aí vem a lição: Uma pessoa brilhante que não coloca a equipe em primeiro lugar pode destruir a equipe inteira.
Em outro trecho, ele conta que estava super mal no jogo e então, o capitão atento, assumiu a sua responsabilidade e realocou as posições, colocando Satya em sua melhor função do jogo. Empatia total do capitão que traz uma outra lição importante: O bom líder é aquele que sabe trazer à tona o melhor de cada membro da equipe. Além de todos estes pontos, nos processos de onboarding em que estou envolvido, eu gosto de dizer para todas as pessoas que, como seres humanos, estamos certamente passíveis de momentos e dias não tão bons, mas é muito importante de alguma forma sempre resgatar aquela vibe dos primeiros dias onde prevalecia somente a empolgação, a vontade de crescer e o brilho nos olhos para fazer a diferença. Tendências sempre vem e vão mas para mim, manter o foco nas pessoas é a única que sempre está válida e que cabe para qualquer empresa, de qualquer tamanho e para todas as verticais.