Organizações precisam se adaptar a este cenário de mudanças exponenciais e disruptivas para continuar fazendo parte do jogo
Uma revolução industrial é caracterizada por mudanças abruptas e radicais, motivadas pela incorporação de tecnologias, tendo desdobramentos nos âmbitos econômico, social e político.
Segundo o professor alemão Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Em sua escala, alcance e complexidade, a transformação será diferente de qualquer coisa que o ser humano tenha experimentado antes. Ainda, desenvolve a ideia de que já estamos vivendo nessa nova Era.
Esse movimento tem sido impulsionado por um conjunto de tecnologias disruptivas como robótica, inteligência artificial, realidade aumentada, big data, nanotecnologia, impressão 3D, biologia sintética e IoT, onde cada vez mais, dispositivos, equipamentos e objetos, serão conectados uns aos outros por meio da internet. Muitas destas tecnologias estão ainda em fase inicial e seu real potencial não foi explorado em sua totalidade.
A força desta revolução não se define no olhar centralizado em cada uma destas tecnologias de forma isolada, ao contrario, se dá pela convergência e sinergia entre elas e principalmente, como essa convergência altera o mercado e as nossas vidas. A junção de duas ou mais tecnologias criando um novo modelo de negócio, que traz consigo um produto ou serviço inovador, gera uma incrível cadeia de desmaterialização, que por consequência gera desmonetização e por fim, democratização.
Projetar essa sequencia fica fácil quando pensamos nos atuais aparelhos de celular. Nas versões mais básicas, no mínimo foram incorporados uma câmera fotográfica, um aparelho reprodutor de música, um gravador e um despertador. Todos esses itens foram desmaterializados, formando um único aparelho e não necessariamente o custo unitário de cada um deles, foi agregado ao preço final do aparelho celular, logo, foram também desmonetizados, então, permitindo o acesso a um maior número de pessoas ou democratizando a tecnologia.
Esses são apenas alguns dos aspectos que envolvem a economia digital. Se o mercado muda o comportamento de consumo, sendo em especial a oferta e a demanda também alterados, sim, estamos falando de uma nova economia.
Um fator ainda mais expressivo do que o comportamento de consumo seja a criação de novos produtos e serviços. Cada modelo de negócio com base disruptiva tem o poder de alcance médio de alterar outras 10 indústrias. Não é necessário ir longe ao pensarmos na indústria automobilística. O uso de um carro ou meio de locomoção prepondera à posse, ou seja, ter um carro, em especial nas cidades e metrópoles cada vez mais caóticas.
A medida com que as pessoas passarem a utilizar o carro como um serviço, sendo esta experiência suportada por tecnologia, o negócio mais rentável e óbvio das montadoras pode ser o aluguel dos carros e não mais fabricá-los para vendê-los. De imediato, isso afetaria as empresas de aluguel de carros, os modelos vigentes de seguro de automóvel, as empresas de serviço de estacionamento e assim por diante. Uma cadeia completa sendo alterada por um único modelo de negócio disruptivo e o mais intrigante, focado na experiência do ser humano.
As organizações precisam se adaptar a este cenário de mudanças exponenciais e disruptivas para continuar fazendo parte do jogo. É a partir desta necessidade que o tema Transformação Digital ganha força e começa a dominar os temas estratégicos das empresas. Ter assertividade e entendimento de como trilhar essa jornada, será tão importante quanto à adequação dos desafios impostos pela Era Digital.
Transformação Digital – Conceitos e Estratégias Efetivas
Não existe sequer uma empresa no mundo capaz de entregar um serviço ou produto que garanta a transformação digital! Por mais que o nome dado ao conceito “Transformação Digital” pareça propor inicialmente que algo deve ser feito por meio de tecnologia, para que uma determinada transformação seja gerada, na realidade e de fato, trata-se do último elemento a ser considerado.
Um bom exemplo seria utilizar uma lógica bem simples, onde uma determinada organização adquiri de um determinado fornecedor, a mais moderna solução de biometria existente no mercado. Esta fictícia empresa pode utilizar essa alta e moderna tecnologia para aumentar o controle e precisão da entrada e saída de seus funcionários, o que gera baixo ou nulo valor á atividade fim da empresa, porém, aumenta o controle e possíveis problemas trabalhistas. Contudo, esta mesma tecnologia, pode ser utilizada pela empresa para gerar uma experiência memorável aos seus clientes, por meio da efetivação de pagamentos por meio biométrico, aumentando a segurança da transação e evitando o uso tradicional de cheques e/ou cartões de crédito, apenas por associar uma informação biométrica a um número de cartão ou conta corrente.
O que este exemplo fictício, mas plausível nos mostra é que uma mesma tecnologia, de um mesmo fornecedor e provavelmente pelo mesmo valor de investimento, pode ser utilizado em uma iniciativa de transformação, disrupção, encantamento e experiência do cliente ou somente tratar um problema específico e interno de eficiência operacional. Não é a tecnologia que transforma, mas a maneira como ela é empregada e principalmente, considerando o ecossistema ao qual ela será utilizada para prover a transformação.
Existe uma falsa percepção de que inovação tecnológica é um processo que acontece dentro de empresas de tecnologia nos departamentos de P&D, com inúmeras pesquisas e então, nasce um novo conceito que pode mudar o mundo. A grande verdade é que as maiores e melhores empresas de inovação e tecnologia estão gastando bilhões de dólares anuais para tentar decifrar e prever o comportamento do futuro dos clientes, de maneira bastante singular, para então, gerar um novo produto ou serviço que chegue lá primeiro. Focar nas pessoas é estratégia corporativa, não estratégia de um projeto.
Outro aspecto que corrobora para este cenário é o advento das startups. Empresas jovens, enxutas e dinâmicas extremamente orientadas a inovação. Um fato pouco divulgado ou discutido é que as startups entendem melhor do que ninguém as pessoas que fazem parte do seu ecossistema, suas necessidades, problemas e o principal, como resolvê-los.
Finalmente, não por evolução, mas por entender a verdadeira essência das coisas, o tema “protagonismo das pessoas” ganhou as manchetes das redes sociais. Constata-se de maneira mais clara e evidente que, qualquer processo efetivo de transformação, seja ele cultural ou tecnológico, passa primeiramente por pessoas e sua cultura e quanto a isso, não existe espaço para argumentações ou pontos de vista diferentes.
Quando falamos de aspectos humanos em primeiro lugar, não existe uma receita única de sucesso para estratégias de transformação digitais bem sucedidas, ao contrário, deve ser uma adaptação para cada empresa, em seu devido segmento e focar, sobretudo nos aspectos culturais que criam as condições necessárias para que todo o ecossistema seja estimulado a ser um potencial agente de mudanças evolutivas e disruptivas, utilizando tecnologia como meio. Trata-se de uma jornada e não simplesmente um projeto específico ou aplicação de uma determinada tecnologia.
Processos Ágeis – Além de BPM com aderência a Era Digital
Trata-se de uma nova e consistente abordagem para Business Process Management que torna a compreensão e aplicação de processos de negócio, em plena sintonia com o cenário do mercado global, considerando aspectos como: economia digital, protagonismo das pessoas, criação de produtos e serviços baseados em experiências e principalmente, o desenvolvimento e evolução de modelos de negócio com bases disruptivas, não provenientes de ciclos de melhoria, mas de um novo olhar de entrega de valor, orientado de fora para dentro.
– Contínua Entrega de Valor: Não se trata mais de melhorias incrementais, mas sim de inovação e disrupção contínua;
Conhecimento Antecipado do Futuro: Entregando valor de forma contínua, permite que o conhecimento do futuro seja antecipado, por meio das experimentações que geram tanto experiências quanto frustrações, possibilitando a redefinição dos processos.
Ter a completa visão e o gerenciamento dos processos de negócio que compõem uma organização, certamente trouxe uma forte mudança de paradigma nos modelos de gestão do mercado. Contudo, não somente o mercado, mas o mundo todo está passando por mudanças exponenciais, fruto da quarta revolução industrial, em uma era repleta de desafios de transformação digital, que obriga todos os modelos de sucesso a serem revistos, repensados e costumeiramente, evoluídos.
Vivemos em uma era em que a experiência do cliente dita o norte da criação de produtos e serviços e tais experiências são renovadas com extrema velocidade, sendo por vezes, criadas por modelos de negócio altamente disruptivos e que por sua vez, exigem processos de negócio orgânicos e adaptáveis a esta nova condição de mudanças.
Processos Ágeis alinham a visão dos processos de negócio com base na jornada e experiência do cliente, promovendo rápida e constante experimentação, trazendo um modelo de inovação e aprendizado contínuo, assim garantindo a competitividade e fidelização com uma real entrega de valor, preparando as organizações para um futuro que já começou.
Entrega Ágil de Processos Digitais – Tecnologia Aplicada no contexto Human-Centered Design
Para que uma organização sobreviva e seja próspera na era em que vivemos, ela certamente deverá ter plena consciência e profunda compreensão das pessoas que compõem o seu ecossistema e a partir desta mentalidade, ser então capaz de entregar experiências memoráveis e de alto valor por meio de seus produtos e serviços.
Entrega Ágil de Processos Digitais é uma poderosa combinação da filosofia Ágil com a disciplina BPM e o mindset de empatia e constante experimentação com foco no cliente ou de maneira mais clara, no ser humano que receberá valor com a determinada entrega. O resultado final ou constante dessa entrega sempre acontece de maneira digital, permitindo que a organização tenha a experiência de seu negócio sem as travas dos modelos analógicos.
Sendo o “digital” não mais um fator de apoio, mas de estratégia competitiva e ainda considerando a máxima de que tecnologia por tecnologia não entrega valor, a forma de utilizar e entregar soluções digitais tem o mesmo grau de importância de qual solução utilizar.
Entrega ágil de processos digitais é uma efetiva estratégia de transformação digital, pois considera e aborda de forma direta os principais desafios de entrega de valor da era digital, oferecendo respostas assertivas para jornada do cliente, constante experimentação, conhecimento antecipado do futuro e experiência digital que unidas, permitem a inovação contínua.
Autor: Diego Mesquita, Chief Alliance Officer da Lecom.
Saiba mais sobre o autor em: www.linkedin.com/in/mesquitadiego/
*Artigo originalmente publicado em: itforum365.com.br